O título deste artigo é forte, mas foi esta a intenção. Vale completar que a Engenharia Biomédica nunca poderá salvar o Brasil sozinha, por mais aguerridos que sejam os engenheiros biomédicos brasileiros. Há um conjunto bastante grande de atores que deverão se coadunar para o sucesso da saúde contra esta terrível doença.
Não precisamos incentivar o pânico, mas muito menos devemos ficar atônitos ou negar que um perigo enorme se avizinha. Todos que têm acesso às redes sociais e leu os “posts” e “memes” com olhar crítico se deu conta que há uma verdade insofismável: a diferença entre termos uma pandemia mortal e uma pandemia “desagradável” está na velocidade que a doença vai se espraiar pela população. Dentre várias digressões, divagações e constatações, uma que é praticamente unânime é que todos os seres humanos serão contagiados pelo SAR-CoV-2, vírus causador do COVID-19, em algum momento das nossas vidas. Se vamos sobreviver, ou melhor, quantos vão sobreviver, depende de vários outros fatores. Não devemos criar pânico a respeito, repito. Há pouco mais de 100 anos, sem a velocidade de contágio que hoje temos oportunidade de perceber, a dita Gripe Espanhola dizimou milhões. O vírus daquela pandemia foi o H1N1, velho conhecido que até hoje mata milhares de pessoas no mundo anualmente e que virtualmente todo ser humano já teve contato. Não assusta mais tanto quanto há 100 anos. Mas o novo coronavírus ainda assusta muito. Com razão.
Este artigo vem trazer à luz uma ação que pode salvar muitas vidas. Esta ação não vai evitar o contágio comunitário nem deter a pandemia, mas pode deveras minimizar suas consequências nefastas. A propósito, o que poderá aplacar o ritmo do contágio comunitário é simplesmente evitar o contato social por algumas semanas. Meses, talvez. Enquanto lê este artigo, por favor, FIQUE EM CASA!
O COVID-19 é uma doença que ataca preferencialmente as vias respiratórias dos pacientes. Fatalmente o organismo infectado pelo vírus que causa a doença vai ter seu sistema respiratório comprometido em maior ou menor grau, dependendo de fatores coadjuvantes causados por doenças pré-existentes. Normalmente é no sistema respiratório onde os sintomas de manifestam. As comorbidades podem agravar o quadro clínico ou mesmo intensificar sintomas de outra natureza, mas os piores quadros clínicos vão demandar, fatalmente, respiração forçada. O equipamento médico utilizado para suprir o déficit respiratório é o ventilador pulmonar. Havendo ventiladores pulmonares para todos os pacientes que desenvolverem sintomas respiratórios graves ou agudos, o risco de morte será substancialmente reduzido. Entretanto, ventilador pulmonar é um ativo escasso no mercado.
Agora eu vou apresentar uma iniciativa de um colega do Programa de Engenharia Biomédica (PEB) da COPPE/UFRJ. O Prof Jurandir Nadal (http://lattes.cnpq.br/3276524120558309) é pesquisador 1A do CNPq com reconhecimento nacional e internacional na área. Ele está desenvolvendo este projeto junto com sua equipe, incluindo os Prof Alexandre Pino (http://lattes.cnpq.br/8326405483302329) e Prof Frederico Jandre (http://lattes.cnpq.br/7869963100403994).
O projeto descrito a seguir é uma excelente mostra de como a academia, se bem estimulada, pode gerar produtos para atender uma necessidade premente da sociedade. Embora tenha sido concebido e os primeiros testes tenham sido realizados em menos de uma semana, a experiência da equipe em pesquisa básica e aplicada coloca este projeto em TRL 4 ou 5. Algum esforço será necessário para colocá-lo no mercado. Nesse ponto em particular, o Inmetro pode ajudar.
Os ventiladores pulmonares são produtos que demandam registro na Anvisa (Resolução da D
iretoria Colegiada no 27 de 21JUN2011) e certificação compulsória pelo Inmetro (RAC anexo à Portaria no 54 de 01FEV2016) segundo a série de normas ABNT NBR 60.601 (Equipamentos médicos hospitalares). O processo de registro com certificação compulsória é muito demorado e caro, o que pode inviabilizar a entrada deste produto no mercado a tempo e a hora para salvar potencialmente milhares de vidas brasileiras. Sem abrir mão de quesitos técnicos fundamentais, a flexibilização das regras para registro deste tipo de equipamento médico hospitalar poderá ser um divisor de águas nesta guerra contra o coronavírus.
Um ventilador pulmonar custa algo entre R$ 50 mil e R$ 100 mil, dependendo de sofisticação técnica, acessórios e procedência. Estima-se que a produção deste ventilador conforme proposto pela equipe do PEB/COPPE/UFRJ possa custar menos de R$ 1.000 se for colocado em escala industrial rapidamente. Este valor, claro, desconsidera a carga financeira que o modelo regulatório ora vigente exige. Nisso podemos agir!
Como Presidente da Sociedade Brasileira de Engenharia Biomédica e, principalmente, como servidor do Inmetro, eu acredito que uma ação coordenada das diretorias do Inmetro que se debruçam sobre as questões regulatórias e de metrologia científica, tecnológica e industrial podem fazer a diferença neste momento crucial. Buscarmos uma solução para viabilizar a rápida inserção no mercado deste equipamento nacional, com o rigor metrológico que a proposta enseja, atenderia a uma demanda social com o respaldo de saúde coletiva. Seria muito importante se fosse avaliada a pertinências de entrarmos nesta batalha com as armas que melhor sabemos usar: confiança metrológica nos nossos processos regulatórios!
Crédito: Rodrigo P.B. Costa-Félix – disponível nas redes sociais 24/03/2020
Professor busca voluntários para produzir ventiladores mecânicos
Jurandir Nadal, professor titular do Programa de Engenharia Biomédica da COPPE/UFRJ e chefe do Laboratório de Engenharia Pulmonar e Cardiovascular do Programa, fez um chamamento, via Facebook, visando encontrar voluntários para a produção de ventiladores mecânicos: equipamento eletromédico cuja função é bombear ar aos pulmões, utilizados em UTI e necessários para o tratamento de pessoas infectadas pelo Coronavírus.
“Em nosso laboratório estamos estudando a viabilidade de desenvolver um modelo de ventilador mecânico de baixo custo e complexidade, que possa ser construído em massa, em pouco tempo e com os recursos disponíveis no mercado nacional, dadas as atuais dificuldades de importação”, diz o post de Napal. “O equipamento tem que permitir a ventilação mecânica com diferentes concentrações de O2, e não causar barotrauma. Testamos uma versão, que aparentemente funciona, envolvendo o emprego de uma válvula Boussignac e válvulas solenoides, mas não atinge (ainda?) as condições ideais de ventilação invasiva”.
E continua: “Há dois dias tomamos conhecimento de que o Reino Unido lançou um edital mundial (ver no final deste post) para a submissão de propostas de ventiladores já existentes e aprovados para uso clínico em pelo menos um país, que seja factível na Inglaterra. Creio que é oportuno pensarmos em adotar um esforço coletivo semelhante, visando salvar vidas de nossas comunidades. Assim como na grande guerra, “em que fábricas de penicos passaram a produzir capacetes”, imagino particularmente que um fabricante de eletrodomésticos possa redirecionar uma linha de produção para atender a essa demanda capital”.
Ainda segundo o professor, outras ações podem ser realizadas. “Imagino que apenas nos hospitais públicos haja centenas de ventiladores necessitando manutenção, mas que vêm sendo deixados de lado em troca de novos aparelhos. Afinal, como muitos sabem, muitas vezes é mais fácil a gente comprar um equipamento de alto custo do que consertar um!”
Ao final, o professor cita um colega: ”sendo o máximo transparente, as nossas chances são, no momento, ainda pequenas e para aumentá-las temos que encontrar mais voluntários para tratar de:
- A – fabricação da válvula Boussignac;
- B – fabricação da válvula de PEEP (mola – membrana);
- C – contato com os fabricantes que possam se associar ao projeto em domínio público;
- D – Contato com fabricantes e distribuidores de oxigênio medicinal para instalar bicos em hospitais;
- E – contato com fornecedores de circuitos ventilatórios e conexões;
- F – Instrumental de monitorização da ventilação no leito, dado que nosso ventilador é cego;
- G – contato com produtores, distribuidores de HELMETs e máscaras H etc.
Para acessar o post do professor Nadal clique aqui.
Crédito: Forte Forças Terrestres – disponível na internet 24/03/2020
Fonte: https://asmetro.org.br/portalsn/2020/03/24/a-engenharia-biomedica-pode-salvar-o-brasil-do-covid-19/